quarta-feira, 27 de julho de 2011

Por dever de justiça


UMA PÁTRIA RIO-GRANDENSE E PLATINA

Sou bajeense. Não só nascido, mas criado e apaixonado nesta e por esta cidade. Bagé, com suas características - umas comuns a tantas outras cidades, mas outras tão singulares que a fazem única – faz-me pensar no quanto esta terra é, também, uma pátria que, pela definição da palavra, é o lugar onde alguém nasce. Ora, se Bagé é o lugar onde nasci, por que não dizê-la minha pátria? Mas essa é uma discussão que não suscitará uma verdade única, já que todos se acham no – e têm – direito de expressar sua opinião.
Bagé é um canto de extremos, de índices, de vanguarda (no sentido mais amplo da palavra), e dela são muitos dos grandes eventos que construíram a história do estado e, quiçá, do país. Dela são muitos dos filhos que marcaram – e marcam – presença nos livros de história, nas listas de artistas plásticos, escritores, políticos, músicos, etc. Nomes consagrados, outros guardados no anonimato do regionalismo, mas nomes.
Outra característica de cá é influência marcante da fronteira. Somos beneficiados por um diálogo cultural muito rico que proporciona intercâmbio de linguagem, usos, costumes, artes. O ponto onde essas culturas convergem dá-nos um produto novo, que não é nem de lá, nem de cá. Temos aí um movimento cultural que é bem específico dessa região. Aliás, o cenário cultural de nossa cidade é bastante movimentado para um lugar com o porte que temos, mas isso é desconhecido da maior parte da população. Cabe-nos mudar essa realidade.
E para tanto, dispomos de um grupo muito talentoso de representantes das mais diversas vertentes artísticas. Exemplo disto, é o Grupo Sonido del Alma Gaucha que surgiu, em 2003, justamente para contemplar este novo produto a que me referi anteriormente, lançando, no mês dos 200 anos de Bagé, o seu 3º Álbum intitulado “Rio-Grandense e Platino”.
O Grupo promove, em suas apresentações, uma experiência não só musical como folclórica, histórica, literária e sensitiva, tanto pela escolha dos temas, quanto pela extrema competência e virtuosismo com que acariciam seus instrumentos e emanam suas vozes. Em seu último trabalho, o Grupo nos mostra um repertório que reúne ritmos tipicamente gaúchos com ritmos platinos – como sugere o próprio título – representando com propriedade o fruto dessas relações fronteiriças e irmãs. Destaco, ainda, a voz cristalina com que Jéssica Mattos nos toca na canção Cuando te encontré, que tem melodia de sua autoria e letra de Rafael Souza. Além disso, a canção Chacarera de três pátrias, letra de Paulo Mendonça e melodia de Alessandro Mattos, sintetiza muito bem esse ideal defendido pelo projeto Sonido del Alma Gaucha:
Apresentar um trabalho musical sério, que atinja o maior número possível de pessoas que tenham identificação com a proposta musical do grupo, que valoriza os usos e costumes do campesino rio-grandense, uruguaio e argentino, sempre acompanhando as modernas tendências musicais, proporcionando aos integrantes a realização pessoal e profissional através da música.”*
A tendência de um trabalho como esse, que se dá em meio à dedicação e compromisso, é que seja reconhecido por aqueles que ocupam o espaço-alvo, ou seja, o público. Sou bajeense. Não só nascido, mas criado e apaixonado nesta e por esta cidade, orgulhoso por possuir, nela, uma coletânea tão forte e diversa de fatos culturais. Posiciono-me, então, no lugar de consumidor desse trabalho tão esmerado, como o do Grupo Sonido del Alma Gaucha, e o reconheço como parte fundamental integrante de minha identidade fronteiriça.



*Trecho extraído do site http://www.sonidodelalmagaucha.com.br



Ânderlo Rodrigues Silva


Um comentário:

Marcia Regina disse...

Adorei querido,

Continue escrevendo, amando, brincando e entendendo-se com as palavras. Elas nunca nos deixam sós. Já sousua fã e vem pra cá, pro meu cantinho também. Abraços,

Marcinha